Jogos históricos: Corinthians x Fluminense (Invasão Corintiana)

 

O ano é 1976. Depois de uma bela campanha nas fases anteriores, que precederam esse jogo decisivo entre Timão x Tricolor carioca, pela semifinal do Campeonato Brasileiro, o time alvinegro paulista não queria perder a oportunidade de chegar a finalíssima do Brasileirão daquele ano.

Antigamente, o Campeonato Brasileiro, se dividia em fases: Primeira Fase, Segunda Fase e Terceira Fase, para ver os 4 melhores times que iriam para as semifinais. O timão, conseguiu bons resultados e passou tranquilo da primeira fase, garantindo sua vaga após três vitórias seguidas contra Ceará, Nacional e Remo. Na segunda fase, o timão começou mal, com duas derrotas em três partidas disputadas, mas com um arranque, conseguindo duas vitórias consecutivas contra Operário e Sport, passou para a terceira fase.

Após começar mal essa fase, o timão conseguiu uma reação incrível, para se classificar para as semifinais, vencendo cinco jogos seguidos, contra Botafogo, Caxias do Sul, Ponte Preta, Internacional e Santa Cruz e conseguiu uma das quatro vagas.

Como o Fluminense realizou melhor campanha, o jogo, disputado em partida única, foi no Maracanã. O time tricolor, apontado por muitos como o favorito para o confronto, já que contava com grandes jogadores, que vestiram a camisa da seleção brasileira, como Carlos Alberto Torres, Edinho, e o maestro, ídolo corintiano, Rivelino, o grande Riva. O “esquadrão imortal” como era chamado, foi como favorito para o confronto contra o time do Corinthians.

Já o alvinegro paulista, o todo poderoso timão, contava com alguns bons jogadores, mas não se comparava com o favorito time do tricolor carioca. Grandes nomes conhecidos, como Zé Maria, Ademir, Wladimir, Basílio, eram as esperanças do Coringão, contando ainda com boas contratações ao longo da temporada, como Givanildo e Neca, vindo do Santa Cruz e do Grêmio, respectivamente, para melhorar o meio campo da equipe.

Às vésperas do jogo, começou o espetáculo. Logo após a classificação para as semifinais, do jogo de Recife, contra o Santa Cruz, muitos torcedores do Corinthians, em vez de voltarem para São Paulo, foram direto para o Rio de Janeiro, local do palco da grande semifinal contra o tricolor.

Muitas fontes jornalísticas afirmavam que haviam mais de 70 mil torcedores do Corinthians em pleno Maracanã para assistir a semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, e diversos torcedores do Corinthians nas praias do Rio de Janeiro. Ainda é relatado que a Gaviões da Fiel (maior torcida do Corinthians) enviou 300 ônibus para o Rio de Janeiro.



Alguns estudiosos das torcidas organizadas, como Buarque de Hollanda e Negreiros et al. (2015), afirmam que a invasão corintiana serviu não apenas para demonstrar a paixão dos torcedores por seu clube, mas também, em um momento de Ditadura Militar, quando as pessoas não tinham a liberdade de expressão nas ruas, a invasão corintiana serviu para a população ir para as ruas, seja para torcer ou para protestar contra a ditadura, como passou a ocorrer, com revoltas da população contra o movimento ditatorial. A torcida do Corinthians tinha reinaugurado a ocupação do espaço público.

Esses mesmos autores, Buarque de Hollanda e Negreiros et al. (2015) afirmam que entre os jornais cariocas e paulistas, só se falava desse jogo. Muitos jornais cariocas, assustados até, com essa invasão, ironizavam os corinthianos, fazendo críticas preconceituosas e relativizadas sobre a torcida da fiel. O jogo foi no domingo e antes e depois, só se falava do confronto, tanto pelos jornais paulistas, quanto pelos cariocas. O jogo foi em um domingo a tarde…

Dia 5 de dezembro de 1976. Dia do jogo incrível, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro, entre Fluminense e Corinthians. O estádio maravilhoso do Maracanã, contava naquele jogo, segundo dados, com 146.043 torcedores presentes e a torcida corintiana conseguiu dividir o “Maraca”, colocando mais de 70 mil torcedores e enchendo o estádio. Um espetáculo a parte da torcida alvinegra. O jogo estava pronto para começar e a ansiedade pelo confronto estava a mil.

O Corinthians, treinado na época por Duque, foi a campo com: Tobias, Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir, Givanildo, Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão e Romeu. O esquadrão alvinegro foi com força máxima em busca da classificação para a grande final do Brasileirão.


Já o Fluminense, comandado por Mário Travaglini, escalou o time com: Renato, Rubens Galaxe, Carlos Alberto Torres, Edinho e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Cléber e Rivelino; Gil, Doval e Dirceu. O time repleto de craques e contando com a ex-estrela alvinegra Rivelino, foi em busca da vaga para a finalíssima.

O jogo em si, prometendo ser disputado do início ao fim, começou com tudo. Os dois times não queriam desperdiçar a chance de chegar na final do Campeonato Brasileiro e buscar o título daquele ano. A primeira chance criada foi do timão. Zé maria cruzou pela direita, mas o goleiro Renato fez a defesa. Logo em sequência, o fluminense respondeu. Dirceu tentou o gol, mas Tobias defendeu com segurança.

Aos 18 minutos, gol do tricolor carioca. Gil cruzou na área e Pintinho ganhou de Zé Eduardo e escorou para o fundo das redes. Gol do Fluminense, 1 a 0 e a vantagem no placar. O Coringão, depois de pressionar por duas vezes, conseguiu marcar aos 29. Em cruzamento na área de Vaguinho, Neca ganhou a disputa com Rodrigues Neto e a bola sobrou para Givanildo, que tocou para Ruço, fazer um golaço de meia-bicicleta. O timão empatava o jogo, alegria dos corintianos que encheram o Maracanã e de toda torcida fiel, espalhada por todo o Brasil. O Coringão empatou o jogo e levou o jogo para a prorrogação e logo em seguida, para os pênaltis.

Na cobrança de pênaltis, o Todo Poderoso Timão contou com a inspiração do goleiro Tobias, que defendeu as cobranças de Rodrigues Neto e Carlos Alberto Torres. Apenas o jogador Doval converteu para o tricolor carioca. O timão, com as conversões de Neco, Ruço, Moisés e Zé Maria conseguiram a classificação para a finalíssima do Campeonato Brasileiro de 1976. Orgulho da Fiel e de toda torcida Corintiana, que encheram o Maracanã, lotaram as praias cariocas, para acompanhar esse jogo incrível. Na grande final, infelizmente, o timão perdeu para o Internacional de Falcão, mas…

Essa data de 5 de dezembro de 1976, fica marcado na história corintiana até os dias de hoje. Como relatado, não foi apenas pela grande classificação e vitória contra um dos grandes times do Brasil, caso do Fluminense, mas além disso, pela “Invasão Corintiana” ou “Invasão do Maracanã”. Pensando bem, nos dias atuais, é quase impossível pensar em uma coisa dessa. Um time encher o Maracanã com 70 mil torcedores, sendo torcida visitante e encher as praias cariocas, é algo maluco de se ver, algo que só quem é do bando de louco entende! O Corinthians e sua torcida demonstrou mais uma vez todo o seu amor e paixão pelo timão, nesse confronto que ficou para a história.



Fontes e fotos: Livro “Os Gaviões da Fiel” (Buarque de Holanda e Medeiros et. al), GloboEsporte, Espn, Terra e LanceNet.


Comentários

  1. Muito bom! Lembro que o time do Fluminense era mais leve e de toque de bola e o Timão era mais combativo. Caiu uma bruta chuva que ajudou o Corinthians e atrapalhou os planos do Fluminense. Como diz o Juca Kfouri, foi o maior deslocamento de pessoas sem ser em tempo de guerra.

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    1. Realmente, a chuva deu uma grande ajuda para o timão! Foi incrível ver a força da torcida fiel em invadir o Maracanã e o Rio de Janeiro, em si...

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